terça-feira, 3 de junho de 2014

Destralhar

É um termo que detesto, mas deparo-me com ele não raras vezes, pela blogosfera. Não é bem a realidade cá de casa, a de acumular tralhas. Não somos (nem podemos ser) consumistas. Mas há demasiadas coisas sem sítio definido, muitas roupas que já não servem. Há não muito tempo eu achava que era um desperdício comprar caixas, cestos e afins. Hoje em dia são a minha salvação. Depois de haver um sítio para uma coisa, deixo de pensar nela, porque sei onde está e onde pertence. Isto é tão óbvio, mas para mim foi uma aprendizagem tardia. Depois, atrelado ao acto de destralhar está aquele pormenor chatinho que é o desprendimento. O deixar ir, deitar fora o velho para entrar o novo. E isso é muito difícil, pelo menos para mim. Mas sempre que o fiz, na certeza de que era isso que queria, nunca me arrependi. 
Por exemplo, há uns dias livrei-me de uns diários antigos. Durante muito tempo escrevi diários, alguns descrevem períodos bem negros da minha vida. Peguei neles, abri-os mas não os quis ler. Hoje sou uma pessoa muito diferente da que era quando os escrevi. Não sei se é questão de um amargo de boca pelo que sentia na altura, pelo que passei. Depois de alguns anos de hesitação decidi que não queria ficar com eles. Preciso de aceitar que esses anos existiram, preciso de aceitar que fiz o melhor que soube. Agora preciso de cestas e caixas internas para arrumar muitos sentimentos e emoções. Deitar fora os velhos, os ressentimentos, os arrependimentos, os complexos, e deixar que as coisas boas se instalem, as boas vibrações, o optimisto e a alegria de viver. Para viver, de facto.

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