quarta-feira, 22 de outubro de 2014

"Pessoas sem filhos vs Pessoas com filhos"

Encontrei este link no facebook e partilhei com a seguinte frase: "Detesto admitir, mas é quase tudo verdade. Não tudo, mas quase tudo". Passado algum tempo, havia nos comentários algumas vozes discordantes. Hoje em dia abundam este tipo de artigos, e às vezes até dá que pensar. 
Antes de mais, com a minha frase eu queria dizer que algumas daquelas coisas já nos aconteceram numa dada altura. Não em simultâneo, não sempre. 
Este texto em forma de lista quase sugere que não ter filhos é que é, é ter liberdade para escolher, para fazer, para ir. E depois as pessoas com filhos, coitadas, com vidas patéticas, sujinhas e limitadas. A vida com filhos não é assim, é uma visão redutora. Mas os aspectos referidos no texto acontecem, ah sim. 

Eu por exemplo, temo a sexta-feira. A semana de trabalho do Daniel tem seis dias, ao sábado ele sai para trabalhar, eu fico sozinha com as duas pequenas, com o almoço para tratar e sestas para gerir. E é quando me defronto com a desarrumação que vai pela minha casa, pelo monte de roupa até ao tecto, pelas tarefas que se acumulam. Para não falar de que não damos um jantar para amigos há meses. 
No outro dia estava tão exausta que só queria cinco minutos de silêncio. E juro que pensei ir um bocadinho para o escritório, para o conseguir. Entre outros.
Às vezes é mesmo muito duro, caótico e desesperante. Mas os adultos somos nós e cabe-nos gerir a dinâmica familiar, criá-la de forma saudável. Nenhuma criança se vai sentir segura com pais que não têm amor próprio. E pais com amor próprio investem nas rotinas, na estabilidade, na coerência. E com isso ganham tempo, ganham espaço e ganham respeito. E nas rotinas familiares tem que haver espaço para, por vezes, as coisas descambarem.

Eu gosto muito de ser mãe, fui mãe quando me senti preparada. Não preparada para as noites interrompidas, para as refeições atribuladas, para as birras, para as fases, ninguém está verdadeiramente preparado para isso. Digo preparada para a entrega, para uma mudança de vida. 
Perdem-se umas coisas, ganham-se outras, ajustam-se outras. O que interessa isso? Nenhum pai ou mãe saudável vai olhar para os filhos e pensar "foste a pior coisa que me aconteceu". Ter um filho é maravilhoso, e este adjectivo já inclui tudo o que tem de terrível e assustador. E o terrível não é ter uma nódoa de vomitado na roupa, nem poder ir ao cinema ou ao restaurante sempre que apetece. Terrível é querer ser um bom pai e sentirmo-nos a falhar, sentirmo-nos a sucumbir ao cansaço, sentir que não temos o tempo todo que queremos. Assustadora é a preocupação que nos acompanha sempre, pelo bem estar dos nossos filhos. São os nossos filhos. A dar os primeiros passos, a dizer “bola” pela primeira vez. Cada dia vão dependendo menos de nós e tudo isso é simplesmente maravilhoso, mas logo a seguir, um bocadinho amargo. 

Depois cada família tem as suas peripécias, e os pais adoram trocar cromos. Às vezes acho que a nossa vida dava um filme de terror, ou então uma comédia e isso não faz mal. Pegar nesta lista e dizer “isto é a minha vida” é simplesmente errado. Redutor para nós e injusto para elas. Não posso dizer que a minha vida era melhor antes da Bárbara e da Teresa. Era diferente, era boa. Mas agora também é. A um outro nível é até incomparavelmente melhor. Mas é preciso querer ver isso. Mesmo que tenha que voltar ao supermercado duas vezes no mesmo dia, às vezes até mais do que uma vez por semana.

2 comentários :

  1. Concordo com tudo :) Fiz aliás um post precisamente sobre o mesmo artigo, lá no meu tasco. Beijinhos

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    1. Li na hora de almoço. O que eu me ri. Adorei o teu apanhado, é mesmo assim!

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